21 de jul. de 2008

Daniela Beyruti conta tudo sobre o SBT

A filha do apresentador Silvio Santos e atual diretora do SBT, Daniela Beyruti (foto) abriu o jogo e contou tudo sobre os bastidores da emissora e os planos para voltar à vice-liderança. Confira:

NOS BASTIDORES
Estou na diretoria da geradora. Na verdade, o que eu estou fazendo aqui é aprender tudo que tem a ver com o negócio de televisão. A geradora está com a área comercial, marketing, assessoria de imprensa e o que envolve o show business da televisão. Eu conhecia e gosto bastante da área artística, mas é fundamental ver o lado do business da televisão. Estou no comando, mas, ao mesmo tempo, estou aprendendo. É muita coisa nova. Estou nos bastidores dos bastidores...

TELEVISÃO: PAIXÃO E MISSÃO
Gosto de tudo. Amo televisão. Gosto de assistir, de fazer... Gosto da comunicação de massa. De saber que o que estamos fazendo aqui está afetando gente em todas as partes do país. Amo saber que a gente faz televisão para o Terceiro Mundo. A gente tem um canal de comunicação muito forte com o povo. A gente tem o poder, não sei se é a palavra certa, mas um canal de influência tanto para o bem quanto para o mal. Eu gostaria muito, do fundo do coração, de usar a televisão para alcançar coisas sociais que talvez a gente não consiga por meio do governo ou de outros segmentos. Dentro de uma novela, dentro de uma série, dentro de um programa podemos transmitir coisas básicas para o povo, que são fundamentais. Sou humanista. E isso me fascina na televisão.

ÍDOLOS
A gente tinha 100 jovens na equipe do programa, tinha de viajar o Brasil inteiro por dois, três meses. Olhei e pensei: “Estou com um problema”. Eu sou nova, sou considerada a filha do dono, uma coisa que é chata e pode atrapalhar. Falei: “Vamos fazer com que o nosso ambiente de trabalho seja o mais profissional possível. Vamos entender que teremos de lidar com milhares de jovens em cada cidade que passarmos. Seremos a referência do programa para essas pessoas”. E pedi que as pessoas focassem, se comportassem, falei para as meninas que não podiam usar saia curta, mas no joelho. Pareceu uma coisa careta, a ditadura. Mas era uma questão profissional, não uma questão moral. Dia de folga, sai de biquíni na rua, não estou nem aí. Isso teve um efeito muito bom. É preciso, primeiro, ter uma consciência de onde você quer chegar, para depois alcançar o seu objetivo.

SBT X RECORD
Prefiro falar do SBT. Acho que o SBT tem uma coisa muito especial. Querendo ou não, ele é popular. E tenho orgulho de falar que ele é popular. Enquanto tantos querem atingir o público A e o B, a nossa realidade é o C e o D. A gente é C e D naturalmente. Tem uma identificação natural com a massa. Isso vai passando de cima para baixo, e implanta no coração essa vontade de ser um canal popular. É óbvio que perder a segunda posição, para quem quer que seja, não é agradável. A gente, por muito tempo, correu sozinho no segundo lugar. Tinha orgulho, fazia até campanhas (“vice-liderança absoluta” “na nossa frente, só você”...). A gente brincava com isso. A gente nunca quis tirar o lugar da Globo.

REDE GLOBO
No ano passado, fiz um estudo da grade da Globo. Aprendi a ter um respeito e uma admiração muito particular. É tão bem programado com o hábito do brasileiro. É muito legal. Eles têm uma programação direcionada. A gente era a segunda opção. Quando você perde isso, você se pergunta: “Onde eu me perdi? O que aconteceu?”. Só quando você perde, você se depara com essa questão.

CHIQUE E BREGA
Não estou em busca da resposta a essa questão. O ponto é: voltar a ser o que uma vez foi a nossa identidade. O SBT tem a sua personalidade, tem uma marca... É voltar a isso, a focar naquilo que a gente foi feito para fazer. Não adianta querer ser chique, que a gente vai ser brega. É bom a gente continuar a fazer a nossa programação popular, falando do jeito que a gente sabe falar com o povo. Fazer aquilo que nasceu para fazer. Quando a gente se perdeu aí, num tempo, a gente deixou de ser quem era, de fazer aquilo que sabia fazer. Hoje, a gente está voltando, eu acho. É muito mais fácil bagunçar essa sala inteira do que a colocar no lugar. Vai levar um tempo até colocar a nossa casa em ordem.

O MEU PAPEL NA HISTÓRIA
O meu pai é único aqui. A questão é eu ajudar a motivar o pessoal a voltar para esse trilho. Cheguei quando a gente estava perdendo a batalha. É mais uma questão de colocar o ânimo de volta, motivar, sacudir a poeira, e voltar ao caminho que ele está direcionando a gente. De uns tempos para cá houve muita crítica. Quando ficamos um tempo sem falar (com a imprensa), acabou sendo ruim. Deixamos que os ruídos ficassem mais altos do que aquilo que estava realmente acontecendo. Esse é o meu papel.

O JEITO SBT DE SER
Estou aqui, quero aprender tudo que tiver de aprender. Não vou dizer que eu sei tudo, porque não sei. Não vou dizer que estou preparada para estar onde estou, porque não estou. Quero me informar, conhecer mais a história e o futuro, quem está hoje na linha de frente da empresa e o que estão pensando. Pelo que o pessoal fala, ele sempre foi assim (ansioso). E isso sempre deu certo. A Record fez uma coisa muito parecida com a Globo e estabilizou ali. O SBT sempre foi desse jeito espontâneo. Fizemos uma pesquisa, perguntando: se a Globo fosse uma festa, que festa seria? E as pessoas responderam que seria uma festa glamourosa, chique, em que as pessoas ficam na porta, mas não podem entrar. Se a Record fosse uma festa, as pessoas responderam que seria uma festa muito chique, boa... E se SBT fosse uma festa, seria aquela que todo mundo gosta de ir, com cerveja no copo de plástico, coxinha, uma festa que a pessoa se sente em casa. É aí que está a nossa marca, que a gente perdeu. A gente errou a mão em algum lugar ou a Record acertou muito em outro. Não é uma coisa só. Isso faz com que a ansiedade seja maior. “Vamos colocar um Show do Milhão domingo que vem.” E vinha o domingo, e ficava, dava resultado instantâneo. Hoje não é assim.

VENDA DO SBT
Falou-se muito. Era boato. Nunca foi nossa intenção vender. É a nossa menina dos olhos. Uma paixão. Poder se comunicar, entrar na casa das pessoas, estar junto com elas – deixar que o povo faça parte da nossa história, mas também fazer parte da história do povo. Precisamos resgatar mais essa identificação.

A VOLTA DO PANTANAL
Foi uma idéia conjunta, de muito tempo. É uma novela incrível. Como foi bem feita... Vale a pena ver de novo. As novelas da Globo a gente vê de novo. Por que não reexibir uma obra da Manchete?

GESTÃO
Sou muito mais de desenvolvimento e estratégia do que operacional. Sei onde quero chegar, sei falar para todo mundo onde a gente quer chegar. Onde a gente quer chegar? Recuperar a identidade do SBT e conseguir fazer com que seja um canal de entretenimento, com muita qualidade, com conteúdo de verdade e que volte a ser uma referência, que a marca volte a ser valorizada. Temos de reposicionar o SBT.

FONTE: REVISTA PODER

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